Pareceu que não passou nada. A destruição foi rápida e indolor. Alguns diriam até que, se não fosse pelo fato de ter sido o fim, foi sem graça. E na verdade, mesmo tendo sido o fim acham isso. A decepção da expectativa da destruição da terra foi tão grande que muitos cogitaram a possibilidade de se matar. Mas logo depois deprimiram-se mais ainda, pois se deram conta que já estavam mortos e aí tentaram inutilmente outro suicidio coletivo no além. E assim sucessivamente. E esse grupo está condenado a passar a eternidade se matando.
Em meio a essa confusão, McBeluga ainda tentava entender que estrondo era aquele, porque McSnow sumiu e porque ele estava naquela fila.
- É o Além - disse o cara na frente dele.
- O que?
- O Além, a fila para o outro lado, a hora da entrada.
- Então... tudo acabou? Todos morremos? Foi mesmo o fim do mundo?
- Foi...
- Eu.. você... todos fomos destruidos para dar lugar a uma via expressa?
- Você!
- Eu o que?
- Você foi destruído! Eu morri em outra ocasião.
- Ah é? e quando você morreu?
- Ontem!
- Ontem?
- É, Meus problemas pareciam estar tão longe... Agora parecem que eles vieram pra ficar...
- Ihh.. Morte complicada né?
- Nem me fale, mas eu acredito... ontem!
- Sei... e quantos anos você tem?
- Se eu estivesse vivo, teria 28 anos.
- Novo... deixou alguma grande paixão pra trás?
- Ah!!! Por quê ela teve que ir?
- Eu não sei, Ela não disse?
- Será que eu disse algo errado? ah... ontem... o amor era um jogo fácil... agora eu preciso me esconder em algum lugar...
- Bem, agora você não precisa de mais nada... estamos indo pra algum lugar... aliás... sabe me dizer se é o Céu ou o Inferno?
- Não sei... quer que eu segure sua mão? Diga palavras de esperança? deixe estar...
- Você é estranho... mas me diga... não acha essa placa aí na frente estranha?
A Placa era na verdade um Banner. onde estavam os dizeres "Aqui apenas se falam os sobrenomes, pois nome e sobrenome são muito compridos."
- É uma regra. Todos aqui só se chamam pelo sobrenome meu amigo. Estamos sendo chamados por ordem alfabética.
- Apesar de estar aqui desde ontem, você até que sabe bastante coisa. Só não sabe se é o Céu ou o Inferno!
- Heh! não há muito o que fazer por aqui! apenas aguardado ser chamado pelo atendente. Por falar nisso lá vem ele. Eu serei o próximo a ir. Bem, nos encontramos lá do outro lado.
- Espere, antes de ir, posso saber quem é você?
- Ei rapaz... sem nomes! Lembra da regra?
- Então diga seu sobrenome.
- Meu sobrenome é McCartney!
- Prazer. McBeluga. EI!!! McBeluga deveria ser ANTES de McCartney!
- É, mas eu tenho prioridade por estar aqui desde... ah... Ontem!!! Fui!!!
Não há muito o que se fazer numa fila do além, afinal de contas, se na Terra já era comum deixar as pessoas esperando com horários e tudo o mais, imagine um lugar onde o tempo era apenas um mero conceito de medida não aplicável a dimensão em que todos se encontravam. Então o jeito de fazer passar o tempo era simplesmente conversando com a pessoa que estava ao seu lado e tentando descobrir afinal de contas se a fila era pro Céu, pro Inferno ou para o Purgatório. McBeluga, aguardando então resolveu conversar com outra pessoa da fila. A que estava atrás dele.
Era um sujeito exótico: Com cabelos ruivos, pele absurdamente branca, lábios cintilantes bem avermelhados e com uma roupa bem extravagante. Segurava em uma de suas mãos um sanduíche. Ofereceu a McBeluga, mas este recusou, pois estava de dieta. Logo depois se deu conta que já estava morto e que agora isso não faria diferença, mas já era tarde e o sanduíche havia acabado.
- Bem, já vi que esta fila vai demorar. Então já que estamos aqui e vamos ficar por um bom tempo me apresento, sou McBeluga!
- Muito prazer! Sou McDonald.
McBeluga fez uma cara de terror, virou-se para a frente e pediu ao atendente uma revista de palavras cruzadas bem grande. Depois daquela revelação não tinha mais dúvidas:
Estava nas portas do Inferno.