segunda-feira, setembro 05, 2016

Contos da JMJ Rio2013 - Cap. 05 A noite em claro no alojamento (Parte I)


Apesar de termos assumido apenas duas funções na JMJ, queríamos aproveitar o máximo possível aquela experiência. Foi quando dois grandes amigos, Caio (Sr. Marzullo nos tempos iniciais deste blog) e sua noiva Taináh nos contaram que iriam passar a noite lá na Paróquia Imaculada Conceição tomando conta do alojamento. Foi então que eu e Carol decidimos ficar junto com eles.

A paróquia tinha a função de ser, além de local de dormir para aqueles que não estavam hospedados em nenhuma casa, ponto de encontro para os que estavam hospedados pudessem encontrar seus hospedeiros e irem pra suas casas. As orientações eram sempre de não ligar para as casas após as 23h e acomodar o peregrino no alojamento. Mas como toda boa hospitalidade brasileira, ninguém queria ver seu hóspede alojado, mesmo que fossem 3 da manhã. O Alojamento abria a noite e ficava trancado a partir das 9h da manhã. 

E como o Recreio era looooooooooooooooooooooonge de todas as atividades da JMJ é claro que a galera chegava bem depois. Mesmo assim, muitas pessoas vinham buscar os jovens, assim como eu mesmo me prontifiquei a levar outras para suas casas. Ah sim! A paróquia estava hospedando uma galera do Peru, Uruguai, Argentina, Filipinas, República Tcheca e alguns outros países! Diga-se de passagem, as catequeses em Tcheco eram lá.

A madrugada ia entrando. Caio, Taináh e Carol foram dormir. Eu decidi ficar pelo pátio da Paróquia, pois volta e meia surgiam alguns jovens perdidos. 

Foi quando, por volta das 3 horas da manhã, chegaram quatro rapazes mais velhos pedindo para que eu ligasse para os hospedeiros. Fiquei meio receoso porque eram três(!!!) da manhã.

- That´s Ok! You can call! We´re Priests! From Kenya! They're Waiting for us!

Eram quatro padres do Quênia que tinham se perdido pelo transporte público da cidade! Imediatamente liguei para a casa que três deles estavam hospedados. Quando pedi o telefone ao quarto Padre, ele disse que não tinha o número da casa, que não tinha problema...

Nisso o primeiro padre me puxou e falou baixinho "Ele tem o telefone! mas está com vergonha de ligar por estar tarde!"

Expliquei a ele que eu não poderia fazer nada. Não tinhamos a lista de telefones. Mas que ia acolhe-lo no alojamento. O primeiro Padre fez aquele gesto de "fazer o quê né?"

Desci e acordei o Caio pedindo colchões para o Padre. Eis que descubro que só tinhamos alguns cobertores para acolher os peregrinos.

Subi convidando o Padre John morrendo de vergonha e pedindo mil desculpas por ter apenas cobertores para ele deitar. Ao que me surpreendi pelo olhar e gratidão do Padre que me encheu de bençãos pelo gesto. Nem sequer me deixou colocar mais de um cobertor para "ficar mais fofo". Agradeceu, me deu mais uns 20 "God Bless you" e foi se preparar pra dormir.

Subi novamente para o pátio e, pra minha surpresa, lá estava o dono da casa que o Padre estava hospedado procurando por ele. Desci para chama-lo. Ele estava ajoelhado rezando em cima do cobertor. Interrompi e disse que estavam aguardando ele para leva-lo a casa. Ele continuou a sorrir, me deu mais uma bênção e subiu junto comigo.


Uma humildade fora do comum que nunca mais esqueci. Um gesto de fé e gratidão que teve uma recompensa imediata. Pois sem ele precisar pedir, buscaram ele.

Mas aquela noite me aguardava mais um testemunho de fé que contarei no próximo episódio.

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