18 horas de uma quinta feira convencional, estação carioca, Rio de Janeiro.
Pegou o metrô direção Pavuna com o objetivo de saltar em Del Castilho. O vagão quase explodia de tão cheio. Pessoas se apertando num verdadeiro Tetris Humano.
De olhos fechados, respirava fundo, se esforçando ao máximo para não apertar ninguém e tentar deixar outras passarem para saltar em seus pontos. Era uma tarefa dificil, mas justa. Afinal todos estaval ali diante da mesma dificuldade e era justo que se ajudassem.
Em Maria da Graça, sabia que tinha que se deslocar aos poucos para ficar o mais próximo possível da porta em Del Castilho. Parou diante de um homem que não se movia um centímetro para a esquerda ou para a direita. Tentando compreender a situação perguntou:
- O Senhor vai descer na próxima estação?
- Não - respondeu.
- Então pode me dar licença para eu ficar mais perto da porta.
- Licença? Claro que não rapá...
- Mas Senhor - suspirando para não perder a paciência - entenda, eu vou saltar na próxima estação.
- Hah - com a maior cara de sarcasmo - Se vira aê mermão...
- Como? - se surpreende ao notar o grande abismo de tamanho que tinha em relação ao pequeno arrogante.
- Se vira aê. Eu não vou sair daqui...
Naquele momento pensou em todas as convenções sociais a que se submetera desde que nasceu. Em toda a educação formal que teve. Em todas as vezes que ignorou uma provocação de colegas de escola, que se submeteu a todo tipo de assédio moral no trabalho, a todas as vezes que manteve o espirito calmo. Sempre foram sacrificios, pequenos e grandes, mas sacríficios. Aquela frase, "se vira aê mermão", foi uma pequena carta de alforria das convenções sociais.
Analisou o caminho entre ele, o arrogante e a porta(pelo menos alguma regra lhe passava na cabeça). Averiguou que não havia nenhuma senhorita, grávida, deficiente e nenhum idoso. E quando o trem estava parando alertou.
- Atenção. Como o cavalheiro aqui me solicitou, irei me virar para descer do trem.
Alguns olhos se apavoraram, o rapaz ria de uma forma irritantemente arrogante... a porta se abriu... e junto com ela o Mar de pessoas dentro do vagão se dividiu em dois blocos. Andou em frente praticamente atropelando o rapaz. Que tentou se desviar mas ja era tarde demais... foi carregado uns 7 metros e solto no meio da plataforma com as portas se fechando e tendo que aguardar o próximo trem. O rapaz olhava pro lado e para outro e não conseguia entender o que tinha acontecido. Ele já lá em cima perto das roletas soltava um riso irônico... Todas as convenções sociais voltavam a sua mente mas não sem antes falar baixinho...
- É... se vira aí mermão...